Por Marcela Chanan
No mês de junho ofereci um encontro online sobre projetos e foi muito bom retomar e refletir sobre meu percurso. Percebi que desde que comecei a trabalhar com educação infantil tive contato com a metodologia de projetos, mas assim como as concepções de infância, o papel do professor e da escola se renovaram, o projeto também se transformou.
Nessa busca de acompanhar uma educação contemporânea, meus projetos foram ganhando novos olhares, novas formas de fazer e caminhar com as crianças. E consequentemente contribuiu muito para minha formação.
Diversas áreas trabalham com projetos, porém na educação infantil esse fazer tem suas especificidades, então não é mais aquele projeto que o adulto faz, entrega pronto e a criança executa, que se repete por anos o mesmo e/ou até profissionais de outros contextos reutilizam. Não é mais aquele projeto que o tema já está decidido pelos adultos a cada faixa etária.
A perspectiva dos documentos oficiais e os estudos sobre a abordagem Reggio Emilia, são um convite a repensar a criança, o adulto, a escola e nos embrenhar em novos fazeres.
Quando se pensa em projetos, muitas vezes, é essa concepção que está na imagem do Francesco Tonucci, sob o nome fictício Frato, que vem à tona e circula entre diversos professores e professoras. Embora essa imagem seja uma crítica a organização escolar por datas comemorativas, peguei emprestada para fazer uma analogia ao planejamento dos projetos:
lá no começo do ano letivo, todos os projetos já são decididos com temas, duração, objetivos, conteúdos e propostas, tudo pré-determinado. Uma prática centralizada no adulto, cheia de controle e dominação, onde a concepção de criança é de um ser passivo e vazio, uma visão empírica de desenvolvimento.
Confira esse vídeo antes de seguir a leitura https://ocomecodavida.com.br/nao-sao-tabulas-rasas/
A concepção de criança segundo a DCNEI:
Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.
A BNCC da Educação Infantil (Movimento pela Base) reafirma e complementa:
As crianças são sujeitos ativos, que constroem seus saberes interagindo com as pessoas e culturas do seu tempo histórico. Nessas relações, elas exercem seu protagonismo e, assim, desenvolvem sua autonomia - fundamentos importantes para um trabalho pedagógico que respeita suas potências e singularidades. Nas interações com culturas e saberes, elas constroem suas identidades, suas preferências e seus modos de ver o mundo
É a partir dessa concepção de criança que o trabalho com projetos deve ser fundamentado, como um guia das ações pedagógicas.
A abordagem Reggio Emilia é uma grande inspiração e nos ajuda a pensar e entender como trabalhar com essa imagem de criança, qual o papel do professor e se o projeto não deve estar pronto, como realizar o planejamento.
Antes de continuar vou indicar essas duas leituras:
Não tenho a pretensão de oferecer respostas, nem uma receita ou um direcionamento. A ideia é instigar a reflexão.
O trabalho com projetos vai além de uma metodologia é uma postura, uma atitude, um compromisso. Nessa visão, o professor precisa ser também um pesquisador, aceitar o seu não saber, investigar e aprender. Sem perder de vista a intencionalidade, o planejamento gradual, a criação de contextos para que façam sentido, a garantia da continuidade, a proposição de diversas experiências, o acompanhamento dos processos e a documentação.
Em um projeto articula-se as múltiplas linguagens, o currículo e o interesse das crianças. No entanto, esse interesse não é qualquer um, não é achar uma lagarta no parque e começar um projeto. Precisa de observação e escuta, de perceber um interesse mais persistente, porque interesse pelo mundo as crianças têm a todo instante, não é para tudo virar projeto.
Trabalhar com projeto também é uma parceria entre o adulto e a criança, onde os dois são ativos, protagonistas, valorizados e constroem conhecimentos. Os dois vivem questionamentos, pesquisas, processos, autonomia, autoria e criatividade. Narram juntos o cotidiano na escola por caminhos diversos.
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