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Foto do escritorMarcela Chanan

Atividades da vida cotidiana na educação infantil

Por Marcela Chanan


No cotidiano há uma riqueza de atividades que são permanentes e as crianças podem ter a oportunidades de fazê-las por si próprias. Essa proposta desenvolve a autonomia, a independência, a autoestima e a autoconfiança, favorecendo as relações consigo mesma e com os outros.

O que são essas atividades da vida cotidiana? São ações comuns do dia-a-dia como limpar o chão ou uma mesa, varrer, passar o rodo, lavar recipientes, servir água, arrumar a mesa, cortar frutas, servir o almoço, comer com as mãos, colher ou garfo; vestir a roupa, colocar e tirar a fralda, ir ao banheiro, tomar banho, se enxugar, lavar e enxugar as mãos, pegar e usar objetos da cozinha com cuidado, limpar o nariz, colocar o casaco, tirar e colocar meias, tirar e colocar calçados, fechar um zíper, pegar a mochila, pegar o babador (se usar)....entre outras.


Quando penso em autonomia, faz muito sentido o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal de Vygostky. Para propor essas atividades cotidianas, o adulto deve observar o que as crianças fazem sozinhas e o que precisam do apoio de um parceiro mais experiente (adulto ou criança) para realizar. Esse apoio também pode ser por meio da observação de como se faz (imitação) ou mesmo do acompanhamento e incentivo por parte do adulto que dá sustentação a criança, respeitando a singularidade e ritmo de cada uma.


Pelo currículo da vida prática, a criança é encorajada a descobrir, explorar, a experienciar o processo completo de uma atividade de uma forma organizada e significativa. Ela é encorajada a ser responsável e independente de acordo com seu nível de desenvolvimento. Por esta razão, o adulto no ambiente montessoriano nunca fará para a criança nada que ela seja capaz de fazer por si mesma. É importante para nós lembrarmos que a criança pequena desenvolve-se pelo movimento e pelo trabalho. O corpo é empregado à serviço da mente. (Marion Wallis*)

A preparação do ambiente e a postura do professor tem grande responsabilidade para que a autonomia tenha espaço na escola.


O ambiente e os materiais precisam estar adequados para que o trabalho seja realizado até que o adulto possa se afastar e a criança fazer por ela mesma. É um planejamento minucioso que considera todo o entorno: pense do ponto de vista dos pequenos (altura, alcance, distâncias, obstáculos).


Com a oportunidade dessa autonomia crescer, a criança deixa de ser passiva, começa a participar, a demonstrar interesse e progressivamente conquista a independência nessas atividades cotidianas. Aprendem a ter pequenas responsabilidades e a lidar com as consequências.


Há um processo de aprendizagem que precisa ser garantido, o material deve progredir junto com as conquistas da criança e o ambiente pode precisar de adaptações. Por exemplo, se a criança vai aprender a beber água no copo de vidro existem várias etapas até conseguir realizar essa tarefa por conta própria, ela vai aprender:

  • a segurar o copo (com apoio do adulto e depois sozinha);

  • a diferenciar o copo de brinquedo;

  • que o copo é de vidro quebra e precisa de cuidado;

  • a virar o copo de água na boca devagar para não cair tudo de uma vez no seu rosto ou roupa;

  • a dosar a quantidade de água que engole para não engasgar;

  • a se servir de água e considerar a quantidade, o peso da jarra...

...muitas coisas, não acontece de repente. Isso vale para tudo que a criança vai fazer com autonomia. Educação Infantil é processo!


Apresentar a criança o material (o copo, a jarra, os cortadores, o banquinho, etc) e mostrar como se usa, é indispensável. Não precisa explicar verbalmente, faça para que ela veja e assim aprenderá.E é comum que a ação seja repita muitas vezes até dominá-la completamente, para que possa partir para outra.


Para que tudo isso aconteça vamos considerar o tamanho dos móveis, das escadas, cabideiros, espelho, suportes...de tudo que a criança precisa ter acesso, assim elas podem retirar e usar determinado objeto e devolver no devido lugar.


Precisamos cuidar do excesso de objetos disponíveis, as prateleiras e caixas não precisam estar muito cheias. Escolher um brinquedo é uma decisão que a criança vai aprender aos poucos, então ofereça poucas opções, para depois ampliar o repertório, se for o caso. Mantenha os objetos guardados sempre nos mesmos lugares, se houver alguma mudança que seja gradual.


O papel do adulto é reorganizar a sala várias vezes ao dia, o ideal é que não fique tudo jogado no chão o dia todo. Se as crianças aprendem por imitação, elas precisam ver o professor guardando e arrumando o ambiente para que se interessem em ajudar, o adulto também pode convidar e aos poucos na relação com as crianças colocar regras simples.



Criar um ambiente preparado contribui para que a criança possa agir por escolha, por iniciativa própria, por exemplo, se ela está cansada ou com sono, ter colchonetes em cantinhos ou cama baixa para que possa se deitar por conta própria.


Na foto acima da bebê com a vassoura, ela viu essa poça da água, foi até o pendurador de rodo e vassoura, pegou e passou no chão molhado para puxar a água. Ela repetiu uma ação que observa com frequência nesse espaço, realizada tanto por adultos quanto por crianças mais velhas; e o objeto estava baixo, ao seu alcance, com o tamanho do cabo adaptado para criança.


O método Montessori tem uma riqueza de atividades (de vida prática) e posturas para nos inspirarmos, a autonomia tem foco principal, os materiais e mobiliário tem grande ênfase nessa pedagogia. Algumas coisas que aprendi com Gabriel Salomão, do Lar Montessori:

  • Na primeira infância (dos 0 a 6 anos) a principal necessidade da criança é a independência física, ela busca fazer sozinha. Precisamos respeitar o que ela acredita que pode fazer sozinha, respeitar a autoconfiança e a capacidade que a criança sente nela mesma;

  • A criança pode aprender por ela mesma, o ambiente e o material desempenham papel fundamental nesse processo - autoeducação;

  • Contextos significativos, curiosidade e interesse, trabalho com o mundo real - educação cósmica;

  • Observação, singularidades e comportamentos - educação como ciência;

  • Ambiente e adulto preparado;

  • Mão, mente e coração em conexão - criança equilibrada;

  • Educação para uma nova humanidade!


Todas essas atividades do cotidiano trazem grande paz e alegria para a crianças. Colocar em prática, acompanhar os processos e estudar a filosofia Montessori ampliaram ainda mais meu olhar para autonomia na infância.


Vamos promover o potencial e ampliar as possibilidades da autonomia na escola. Fica o convite!



*Todos os direitos autorais das imagens e texto reservados para Marcela Chanan. É proibida sua cópia sem autorização prévia. O compartilhamento da publicação na íntegra diretamente do blog (link e via redes sociais) é livre. E para impressão é obrigatório colocar a referência.


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