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Foto do escritorMarcela Chanan

Grafismo infantil: vivências com a arte

Por Marcela Chanan




"No que se refere a visualidade, as crianças podem aprender a utilizar diferentes ferramentas, suportes e materiais e experimentar diversas posições espaciais e corporais para desenhar (sentadas, em pé, deitadas de bruços etc.), assim como explorar variadas possibilidades de traçar garatujas, ocupar o espaço com traços emaranhados, riscos, círculos, espirais, de modo bem pessoal. Elas percebem que seus gestos produzem marcas estáveis, os desenhos. (...) As crianças podem aprender a usar novos materiais e ferramentas para explorar objetos e fenômenos que envolvam diferentes possibilidades de cor em seus desenhos e pinturas (...)”

(OLIVEIRA, 2018, p. 60 e 61)


Neste ano um dos meus temas de pesquisa como educadora da infância foi o grafismo infantil. A motivação para realizar essa proposta surgiu da observação da (pouca) relação das crianças com os espaços e materiais para arte, aliada ao convite de planejar um projeto no meu campo de interesse. E assim pensei em como poderia contribuir com o desenvolvimento do sensível, da expressão e da criatividade pelo desenho e pela pintura.


Esse trabalho aconteceu em um espaço de educação não-formal com um grupo de (13/15) crianças, entre entre 1 e 4 anos de idade. A proposta durou 8 meses e foi realizada no contexto de produção coletiva, inicialmente, uma vez por semana.


Havia uma varanda de artes secas onde os materiais estavam organizados ao alcance das crianças e podiam usá-los com autonomia (essa era a proposta). Na varanda de artes molhada tinham algumas ferramentas e potes a disposição, mas as tintas e corantes ficavam no alto sem o acesso das crianças, era preciso pedir o que gostariam de usar e o adulto avaliava a possibilidade naquele momento ou em outro.


Acredito na importância de materiais artísticos disponibilizados livremente, porém as propostas com intencionalidade educativa compõe um conjunto de referências para que as crianças possam buscar a arte no cotidiano, garantindo o desenvolvimento expressivo, criativo e sensível.


“A expressão infantil se inicia pela exploração e se organiza pouco a pouco conforme a sensibilidade do professor aponta para elas certos procedimentos e lhes disponibiliza materiais, de maneira a não aprisionar seu processo criativo nas mesmas fórmulas” (OLIVEIRA, 2018, p. 57)

A minha principal intenção foi despertar o interesse por desenhar considerando a diversidade de materiais, planos e superfícies; em um segundo momento trabalhar com a percepção das suas marcas (linhas, formas, volumes, planos) e com as cores, pois é frequente que façam aquela massa de cor e queria chamar a atenção para novas possibilidades com a arte, além da exploração sensorial. Como meio de expressar suas emoções, imaginação e situações do cotidiano. Portanto, considerei a necessidade de:

  • preparar ambientes instigantes e diversificados para a exploração e criação;

  • proporcionar experiências estéticas sensíveis;

  • observar as intenções de criação e preferências estéticas;

  • registrar todo processo e

  • alimentar percursos expressivos.

Com intenções mais específicas (e aqui simplificadas):

  • utilizar materiais artísticos variados em diferentes planos e superfícies;

  • traçar marcas gráficas, em diferentes suportes, usando instrumentos riscantes e tintas;

  • exercitar a autoria individual dentro da coletiva;

  • participar da tomada de decisão relativa à escolha de materiais e

  • conhecer-se e reconhecer-se no contato criativo.

Os riscantes são instrumentos para deixar as marcas: o giz, o lápis, o pincel, a terra, a tinta, o carvão, entre outros. Os suportes são diversos: papéis, papelão, plástico bolha, tecido, parede, chão, areia, vidro, entre outros. A disposição dos materiais é outro elemento muito importante: cobrir bancos, paredes, chão, brinquedos do parque, pendurar, entre outros. É valioso pensar nas combinações que estes materiais e suas disposições podem oferecer em relação a diversidade de experiências e considerar a necessidade de repeti-las.

A participação nas propostas aconteciam de acordo interesse de cada um, enquanto uns desenhavam, outros estavam no quintal, na biblioteca ou no salão brincando. Essa era a intenção, trabalhar como se fosse uma sessão de 3, 4 crianças por vez. Não teve um tempo de duração fixo, mas a média era de 30 minutos.


Durante todo o processo pude acompanhar o desenvolvimento de cada criança, suas expressões singulares, seus interesses e suas formas surpreendentes de criar e se relacionar com a arte. Me concentrei no campo das artes nesse relato, porém outros campos se articulam nessa experiência.


Conforme as propostas foram acontecendo pude observar como as crianças se organizavam para participar da proposta, a interação entre elas, as sensações, o movimento corporal, as descobertas, o desenvolvimento do grafismo, as narrativas e o que despertava a curiosidade e o interesse. Até meu corpo virou suporte!

Quando me viam mexendo nos materiais já sabiam que iria preparar algo: esperavam, ouviam as orientações e participavam! Ouvir as orientações e observar o resultado delas, foi algo que aprenderam e perceberam o valor que tem (isso porque o que viviam era totalmente livre sem um encaminhamento). Tive a impressão que o elemento surpresa era o resultado da produção, principalmente as pinturas; algumas crianças chamavam os pais para ver com orgulho e isso não acontecia antes nas explorações sensoriais. Maravilhoso! Não desmerecendo as sensoriais, mas elas já sabiam a diferença.


Esse relato é um recorte dessa experiência, houveram outros desdobramentos inclusive percursos individuais impulsionados por esse trabalho.


Me emociono de escrever essa publicação! As crianças são minha motivação, tenho orgulho de ser uma profissional da educação, em meio a tanta desvalorização e desrespeito com a pedagogia me afirmo cada vez mais! Ser professora de educação infantil é uma grande honra!


*Essa experiência foi apresentada no V Seminário Nacional de Educação Infantil da UFCG - Infância, Arte e Produção Cultural em 2021 com publicação de ANAIS e também no Educação em rede da Composição Formação, confira a gravação aqui.


“(...) O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo. Isto seja: Deus deu a forma. Os artistas desformam. É preciso desformar o mundo: Tirar da natureza as naturalidades (...)”

Manoel de Barros


*Todos os direitos autorais das imagens e texto reservados para Marcela Chanan. É proibida sua cópia sem autorização prévia. O compartilhamento da publicação na íntegra diretamente do blog (link e via redes sociais) é livre. E para impressão é obrigatório colocar a referência.


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Referência bibliográfica


MEC; OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Campos de experiências: efetivando direitos e aprendizagens na educação infantil. São Paulo: Fundação Santillana, 2018.


CHANAN, Marcela Juliana. A arte na primeirissíma infância: um convite à exploração, à brincadeira, à vida. 2015. 85 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) Instituto Singularidades, São Paulo, 2015.

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