Os bebĂȘs e o cesto dos tesouros
- Marcela Chanan
- 8 de abr. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de jun. de 2024
Por Marcela Chanan

O cesto de tesouros Ă© uma proposta que aprecio desde que comecei a me interessar pelo mundo dos bebĂȘs na pedagogia e me serve de inspiração em diferentes contextos.
Mas o que Ă© o cesto de tesouros? Ă uma brincadeira exploratĂłria, de descobertas, capaz de aguçar a curiosidade do bebĂȘ por meio da possibilidade de manipular materiais prĂ©-selecionados por um adulto. Os materiais podem ser comprados, confeccionados ou colhidos da natureza e devem oferecer estĂmulos sensoriais diversificados (tato, olfato, paladar, audição, visĂŁo e movimento corporal).
O cesto tambĂ©m sustenta o bebĂȘ nas suas exploraçÔes jĂĄ que um adulto nĂŁo pode ficar o tempo todo com ele e os brinquedos comuns, frequentemente, sĂŁo deixados de lado. VocĂȘs jĂĄ devem ter reparado que hĂĄ uma fascinação dos bebĂȘs e crianças pequenas pelos objetos do cotidiano, que nĂŁo sĂŁo um brinquedo comprado.
Para montar um cesto de tesouros considera-se a variedade e a qualidade dos objetos selecionados e um cesto para que haja facilidade de alcance e escolha dos objetos. Para cada sentido hĂĄ algumas variĂĄveis como textura, formato, peso, cheiro, sabor, som, cor, forma, brilho e medida/comprimento. E que tipos de objetos seriam? Naturais, feitos de materiais naturais, de madeira, de metal, de couro, tĂȘxteis, borracha, pele, papel, papelĂŁo, etc. TambĂ©m Ă© preciso atenção para segurança dos bebĂȘs para que nĂŁo tenham peças que possam ser engolidas, cortantes e que sejam lavĂĄveis, secĂĄveis ou descartĂĄveis. A ideia Ă© ter o mĂnimo ou nĂŁo ter plĂĄstico e brinquedo comprado.
A partir dessa proposta o bebĂȘ Ă© exposto a diferentes aprendizados tanto dos objetos, quanto de si mesmo. Ao observar a exploração dos bebĂȘs ao redor desses materiais Ă© possĂvel acompanhar as descobertas e a concentração pelo qual eles se mantĂȘm e compartilham com o adulto pelo olhar, balbucio ou emoçÔes. O bebĂȘ explora com autonomia, do jeito dele, por exemplo nĂŁo Ă© preciso mostrar que um objeto faz um som, ele descobrirĂĄ por iniciativa prĂłpria.
Nessa exploração os olhos, mĂŁos e boca (em um segundo momento o movimento corporal) trabalham juntos implicados em descobrir o que Ă© aquele objeto e o que ele pode fazer. SĂŁo açÔes como sugar, lançar, sacudir, bater, relacionar e selecionar os objetos mais interessantes que bebĂȘs colocam em prĂĄtica com muito engajamento, alĂ©m de verificarem as diferenças entre os objetos (a partir das caracterĂsticas dos mesmos) e os que lhe trazem sensaçÔes agradĂĄveis e desagradĂĄveis. Todo o corpo estĂĄ envolvido na exploração, usam atĂ© os pĂ©s para segurar, sentir objetos e atĂ© os dedos dos pĂ©s esticados parecendo comunicar algo.
O adulto acompanha a proposta sem intervir: observa e se mantĂ©m atento e relaxado. Como o cesto dos tesouros possui diversos objetos o que pode gerar certo estranhamento, sensaçÔes e entusiasmo, o adulto tem esse papel de apoio tanto das emoçÔes que essa exploração pode trazer, quanto nas interaçÔes com outros bebĂȘs.
Para que o cesto de tesouro continue sendo interessante e um lugar de descobertas é preciso que ele se renove, que ganhe novos itens e que alguns sejam retirados. Hå também a possibilidade de criar cestos por temas.
Durante o uso dos cestos dos tesouros, o adulto deve garantir que as crianças maiores nĂŁo interfiram nesse momento de exploração e que os itens permaneçam no cesto ou ao redor. Portanto, se hĂĄ esse interesse pelos materiais do cesto, o ideal Ă© que seja oferecido outros objetos planejados e contextualizados para os maiores, nessa perspectiva, existe o brincar heurĂstico, que seria a continuidade do cesto dos tesouros. Um estĂĄgio em que um ambiente Ă© planejado e organizado com materiais que sĂŁo observados a partir do interesse das crianças nas exploraçÔes do cotidiano, como se fosse uma atividade com determinado tempo de duração e com o uso dos materiais apresentados para pesquisas e investigaçÔes.
A transição de um momento para o outro, ou seja, do cesto dos tesouros para o brincar heurĂstico acontece depois do primeiro ano de vida, no qual o bebĂȘ jĂĄ se movimenta com maior frequĂȘncia e se afasta um pouco do cesto, porĂ©m permanece prĂłximo nas suas exploraçÔes. Nessa fase deixar alguns recipientes por perto para açÔes de colocar e tirar pode ser o suficiente para mantĂȘ-lo concentrado. Outros preferem explorar e depois caminham para outros ambientes, demonstrando um tempo de concentração, porĂ©m o desejo parece ser levar o objeto consigo por onde for.
Nesse brincar os bebĂȘs se interessam pelo outro e pela atividade do outro num processo de interação ao mesmo tempo que manipulam, escolhem e exploram os objetos do cesto. EntĂŁo Ă© comum que se comuniquem por meio de sorrisos, olhares, toques, balbucios (ou mesmo pelas primeiras palavras), compartilhem do mesmo objeto e entrem em disputas, o objeto funciona como uma ponte para essa troca interativa.
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ReferĂȘncia bibliogrĂĄfica
GOLDSCHMIED, E; JACKSON, S. Educação de 0 a 3 anos â O atendimento em creche, 2ÂȘ ed. â Porto Alegre: Artmed, 2006.
MAJEM, T; ĂDENA, P. Descubrir Jugando, 3ÂȘ ed. â Barcelona: Octaedro, 2010.
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